Fim das Ilusões? Efeitos da nova desordem global no mercado catarinense

Robson de Oliveira • 21 de outubro de 2025

O agronegócio brasileiro prosperou em um mundo que valorizava eficiência e abertura comercial. Marcos Jank, coordenador do Insper Global Agribusiness Center, alerta que esse cenário acabou.


Em entrevista à Forbes, ele afirma que o setor precisa abandonar a ilusão de que “o mundo precisa do Brasil” e se preparar para uma ordem internacional fragmentada, na qual segurança alimentar e geopolitização do comércio ditam as regras.


Países com grande população, como a China, buscam auto‑suficiência e tratam as importações agrícolas como riscos estratégicos.


As instituições que ordenavam o comércio mundial (OMC, ONU) perderam força, e o jogo passou a ser bilateral, com tarifas e pressões geopolíticas substituindo regras coletivas

Por que isso importa para Santa Catarina?

Pinhão na Serra - Agronegócio catarinense

Santa Catarina, apesar de exportadora, possui economia diversificada e depende fortemente de mercados externos.


As exportações catarinenses somaram US$ 5,86 bilhões no primeiro semestre de 2025, crescimento de 6,6% frente ao mesmo período de 2024, impulsionadas por carnes de aves e suínos.


Contudo, essa alta mascara desequilíbrios: setores industrializados ligados aos EUA caíram devido ao tarifaço de Donald Trump e à incerteza global.


As vendas de motores elétricos recuaram 17,9% (US$ 81,5 milhões) e partes de motores caíram 18,5% (US$ 201,8 milhões), enquanto as exportações de soja recuaram 29,7%.


A dependência catarinense do mercado norte‑americano torna o estado vulnerável às novas tarifas. 


Um estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI) estima que o tarifaço americano de 50% poderá causar perda de R$ 1,7 bilhão nas exportações de Santa Catarina, a quarta maior perda do país, e reduzir o PIB estadual em 0,31%, a segunda maior queda relativa entre os estados.


Quase 99% do que Santa Catarina vende aos EUA provém da indústria; madeira (37,2%), automóveis (14,8%) e máquinas e materiais elétricos (13,3%) são os principais produtos.


Além das tarifas, eventos climáticos e sanitários também afetam o mercado catarinense.


A influenza aviária (H5N1) no Rio Grande do Sul levou alguns países a suspenderem temporariamente a importação de frango brasileiro. Mesmo sem casos em Santa Catarina, o estado embarcou 81,6 mil toneladas de carne de frango em maio de 2025, 24,7% menos que em abril e 9% inferior ao mesmo mês de 2024, com receita mensal de US$ 169,5 milhões (queda de 26,2%).


No acumulado do ano até maio, porém, as exportações de frango cresceram 5,5% em volume e 13,6% em receita, somando US$ 1,02 bilhão.


O setor suinícola mostra resiliência: Santa Catarina exportou 59,2 mil toneladas de carne suína em maio (8,8% acima de maio de 2024) e 299,4 mil toneladas no acumulado do ano, faturando US$ 726 milhões.


O estado responde por 53% do volume e 53,4% da receita das exportações brasileiras de carne suína.


Mudança de destinos: Mercosul em alta, EUA e China em baixa

O Observatório FIESC observou uma mudança nos mercados compradores. Entre janeiro e maio de 2025, os Estados Unidos permaneciam o maior destino das exportações catarinenses (US$ 702,6 milhões), mas com queda de 3,3% em relação a 2024; a China também recuou 2,5 %, comprando US$ 502,3 milhões.


Em compensação, a Argentina tornou‑se o terceiro maior destino e aumentou as compras em 34,8% (US$ 369 milhões), enquanto Chile, Uruguai e Paraguai também elevaram as aquisições.


Essa reorientação para o Mercosul reflete uma estratégia de diversificação diante das incertezas norte‑americanas e chinesas.


O que as empresas catarinenses podem fazer?

  1. Gestão de risco e diversificação: Jank ressalta que “gestão de risco nunca foi tão importante quanto hoje”. Para empresas catarinenses, isso significa reduzir dependência de um único mercado. A migração de exportações para países vizinhos e a aposta no mercado interno são exemplos práticos. Monitorar eventos geopolíticos, sanitários e climáticos torna‑se obrigatório.
  2. Valor agregado e inovação: O especialista lembra que o Brasil é líder em commodities agrícolas, mas ainda não se destaca em produtos de alto valor agregado. Investir em tecnologia, processamento e marcas fortes pode aumentar a resiliência diante de tarifas. As indústrias catarinenses podem explorar nichos como biocombustíveis, bioinsumos e integração lavoura‑pecuária, tendências que Jank acredita serem economicamente viáveis.
  3. Atenção à sustentabilidade e sanidade animal: A queda nas exportações de frango após a gripe aviária demonstra como surtos sanitários em estados vizinhos impactam mercados mesmo sem casos locais. Reforçar biossegurança, transparência e certificações pode evitar embargos e manter a confiança dos compradores.
  4. Comunicação adaptada à incerteza: Marcas precisam ajustar sua narrativa. Em vez de prometer crescimento ilimitado, convém evidenciar resiliência, origem local e colaboração regional, mostrando como a empresa protege cadeias produtivas e apoia a comunidade em tempos turbulentos.
  5. Mercosul como oportunidade: O crescimento das exportações para países do Mercosul sugere que parcerias regionais podem compensar perdas em mercados tradicionais. A proximidade logística reduz custos e facilita acordos comerciais mesmo em cenários globais incertos.

Fechamento: o sinal por trás do ruído

Santa Catarina opera hoje num tabuleiro mais barulhento: cadeias globais menos previsíveis, negociações entre blocos que mudam de direção com frequência e choques que ora apertam a indústria, ora mexem nas proteínas.


O que o recorte catarinense mostra, no entanto, é adaptação: diversificação de destinos, reequilíbrio entre produtos e uma capacidade comprovada de reposicionar rotas quando o mundo muda de humor.


Não é uma crise passageira, é um novo regime.


Vence quem lê o cenário com frieza, mantém o foco no longo prazo e traduz essa leitura em decisões consistentes — de portfólio, de logística e de comunicação.


Para quem opera em SC, isso significa seguir atento aos sinais do exterior, mas agir a partir das vantagens locais: ecossistemas produtivos robustos, infraestrutura portuária competitiva e um consumidor que valoriza entregas reais.


Se quiser transformar esses sinais em um roteiro claro para o seu negócio, o SCC Hub pode apoiar com diagnóstico de mercado e comunicação — conectando dados de comércio exterior, logística e audiência para priorizar impacto e alcance.

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